Galerias MIRA celebram cinco anos de uma "loucura" instalada em Campanhã

| Norte
Porto Canal com Lusa

Porto, 12 out (Lusa) - O Espaço MIRA e o MIRA Fórum celebram este sábado o quinto aniversário de uma "loucura" dos fundadores, surpreendidos pelo sucesso e impacto do projeto cultural ancorado na fotografia, mas aberto a todas as vertentes artísticas.

O projeto nasceu da cabeça dos fotógrafos Manuela Matos Monteiro e João Lafuente, hoje com 68 anos, que admitem que toda a gente achou que estavam "loucos em fazer uma galeria" na freguesia.

"Em Campanhã, costumamos dizer, 'as pessoas chegam, as pessoas partem, mas as pessoas não estão'", comentou Monteiro, numa exclusão que também se combate pela arte e com uma "agenda cheia durante todo o ano", que as galerias têm registado.

Instalado há cinco anos em três de 11 antigos 'armazéns de retém' da Estação de Campanhã, na rua de Miraflor, o Mira expandiu-se, em abril de 2017, para um novo espaço na rua Padre António Vieira, paralela à rua das galerias, ligado às artes performativas e sob a responsabilidade artística de Hugo Cruz.

Se a Galeria Mira é dedicada à arte contemporânea, sob direção artística de José Maia, Monteiro e Lafuente assumem a programação do Mira Fórum, virado para a fotografia, e ambos os espaços acolheram já mais de duas centenas de acontecimentos, entre exposições, debates, concertos, lançamentos de livros, 'performances' ou sessões de cinema.

"Há aqui um processo de contágio, e é esta ligação imprevisível que nos faz pensar que vale a pena. Aconteceu outra coisa: as pessoas passaram a achar que Campanhã era uma hipótese", acrescentou Manuela Matos Monteiro, que vê a venda dos restantes armazéns, bem como o reavivar de "outros espaços adormecidos", como um sinal do "espírito positivo" que ganhou a freguesia "mais pobre, desprotegida e excluída da cidade".

Tanto os artistas como o público vão das faixas etárias mais jovens até "nomes consagrados com 70 e tal" anos, numa continuidade de uma "diversidade muito grande" que leva a uma "contaminação de interesses" em público que não tem o hábito, por exemplo, de "ir a outras galerias de arte contemporânea".

"Isto ultrapassou-nos completamente. Gostamos da palavra disponibilidade, e é esse o grande segredo para projetos bem conseguidos. É isso que nos caracteriza. Estamos muito, muito contentes, tanto que viemos viver aqui para Miraflor", contou Manuela.

O sucesso nos últimos cinco anos "foi uma surpresa" que também se relaciona "com a vitalidade da cidade e a dinâmica que se tem criado entre artistas, curadores, ativistas, e também a comunidade, e os vizinhos".

"Esta nossa presença cá teve efeito ao nível da cidade, porque as pessoas passaram a vir a Campanhã para cá vir, e teve efeito na auto-estima da comunidade envolvente", afirmou a fotógrafa.

Já João Lafuente destaca o "projeto do Matadouro", da Câmara do Porto, como algo que poderá trazer "um grande impacto" à zona, que já viu, por exemplo, a reativação do Espaço Campanhã, na rua de Pinto Bessa, entre outros projetos que se instalaram, desde então, na freguesia.

A celebração dos cinco anos concentra-se no sábado, com a inauguração de uma exposição da fotógrafa Violeta Moura, num olhar sobre o tecido social de Portugal, além de um percurso encenado que atravessa os vários espaços das Galerias e da própria zona envolvente.

Janis Joplin, Frida Kahlo, ou uma idosa de Campanhã cruzam-se nos sete monólogos que habitam o percurso "Entre Miras", que arranca na área dedicada às artes performativas e atravessa uma ilha habitacional antes de chegar às galerias.

Com textos de Filipe Pinto, Pedro Pinto, Ana Cristina Pereira ou Roberto Merino, nomes da cidade, e retirados de anteriores encenações de Luísa Pinto e de outros trabalhos, o "percurso performativo" procura "abraçar as várias expressões artísticas que povoam as Galerias MIRA", adiantou à Lusa a encenadora, Luísa Pinto.

Apresentado pelas 21:30 de sábado, com entrada livre, várias atrizes dão vida aos diferentes monólogos, num trabalho artístico que combina "artes plásticas ou a arquitetura", e "as vivências numa cidade como o Porto e esta zona tão deprimida de Campanhã, com temas como a solidão, o envelhecimento ou o abandono, mas também o racismo".

O tipo de trabalho liga-se ainda à área de intervenção artística da encenadora, que, em 2017, dirigiu o espetáculo "Filho Pródigo", com oito reclusos e reclusas dos estabelecimentos prisionais de Santa Cruz do Bispo, apresentado no Mira - artes performativas.

A mostra do regresso de Violeta Moura a um trabalho sobre Portugal, depois do último, sobre a crise económica, aplica "um olhar muito crítico sobre a sociedade" que desenvolveu ao trabalhar no estrangeiro sobre realidades e figuras "bastante políticas, ativistas e dissidentes", explicou à Lusa.

"A ideia é uma espécie de relato pessoal, um artigo de opinião visual sobre o país, sobre aquilo que identifico que poderá melhorar", referiu a fotógrafa, que destacou as melhorias necessárias no que toca à discriminação de vários tipos, não a nível institucional, mas também social, porque "o país também é feito de pessoas".

Manuela Matos Monteiro espera que o Mira possa manter "um bom ambiente, muito informal e de grande proximidade", até quando deixarem o projeto, bem como o grande "apoio e trabalho coletivo" da pequena equipa, muitas vezes ajudada pelos "artistas, curadores e amigos" que acodem a um "SOS" que possam precisar de lançar.

"O nosso grande plano é estarmos disponíveis para tudo o que aparecer, e é isso que vamos continuar a fazer, pelo menos nos próximos cinco anos", resume João Lafuente, enquanto Manuela Matos Monteiro não tem dúvidas: "venham mais cinco, venham mais 10".

SIYF/ACYS // MAG

Lusa/fim

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