Veterinários dos municípios alertam para "impossibilidade" de cumprir a lei

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Porto Canal com Lusa

Redação, 10 set (Lusa) -- A Associação Nacional de Médicos Veterinários dos Municípios alerta para a escolha que as câmaras municipais terão de fazer, entre a obrigatoriedade da recolha dos animais ou a proibição do abate, por considerar "impossível" cumprir as duas disposições legais.

Ricardo Lobo, membro da direção da Associação Nacional de Médicos Veterinários dos Municípios (ANVETEM), falou à agência Lusa a propósito do final do prazo de dois anos para adaptação à lei que determina a proibição de "abate ou occisão de animais em centros de recolha oficial".

A partir do dia 23, o abate está proibido, mas o representante afirmou ser "impossível" cumprir a recolha de todos os animais abandonados na rua sem que haja lugar a abate.

"Ou recolhemos e para isso temos de abater - porque, de facto, o número de animais é estupidamente absurdo e muito maior do que a capacidade de adoção - ou então vamos deixar os animais na rua. Isto é uma questão meramente de opção", afirmou.

"Por um lado, temos dois decretos-lei que obrigam os municípios a recolher os animais da rua e depois temos agora uma lei que impede o abate e os municípios têm de ver. As duas são impossíveis de cumprir ao mesmo tempo, portanto uma destas disposições legais vão ter de incumprir. Têm de escolher qual", acrescentou.

De acordo com Ricardo Lobo, médico veterinário municipal, num ano chegam "cerca de 60.000 animais aos centros de recolha oficiais" (CRO), quase todos cães, sendo adotados em média 14.000.

"O número de 14.000 animais adotados já nos parece um número bastante elevado, bom e razoável. Mais do que isso, em termos de adoção, as famílias portuguesas não conseguem atingir, não têm capacidade de adoção para 60.000 animais num ano, replicando isto todos os anos, porque é uma situação que se repete", destacou.

Segundo o representante, a diferença entre os animais que chegam aos canis e os que são adotados "não deixa margem para qualquer preparação da parte dos municípios".

"Temos um diferencial brutal de animais que continuam a chegar aos canis que não deixa margem para qualquer preparação, construção de um equipamento com uma lotação máxima maior, porque este é um número que não se compadece com nenhuma preparação por parte de nenhum município. Não há forma de uma pessoa se preparar para isto", disse.

De acordo com os números da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), em 2017 foram abatidos cerca de 10.000 cães nos canis municipais de Portugal continental e foram adotados 14.000, gerando uma diferença de 10.000 cães, que ocupam atualmente os centros de recolha.

Para Ricardo Lobo, esta diferença nos números, de 10.000 cães a mais em 2017 nos CRO, não corresponde à capacidade de alojamento que existe em Portugal.

"Com este desequilíbrio de números, se os canis não puderem recorrer ao abate para criar espaço, a grandessíssima maioria deles vai ter que deixar de recolher animais e vai deixar animais na rua", insistiu.

Para ANVETEM, a solução passará por "combater o número absurdo" de animais vadios, o que não acontecerá em pouco tempo, poe se tratar de uma questão cultural: o abandono, que é crescente, continua a ser a raiz do problema.

A associação não descarta a possibilidade do fim do abate nos canis, mas afirma que para tal é necessária uma estratégia que permita mudar a mentalidade da população e terminar com o abandono de animais de estimação.

"É possível deixar de abater animais nos canis municipais, é preciso é fazer um trabalho grande, um plano estratégico para combater isto, de facto, e encarar isto como um todo através da sociedade. Não são os municípios que têm de se preparar. Não são os municípios que abandonam os cães, temos de deixar de culpar o Estado por tudo, não são as autarquias e os municípios que são culpados dos animais que andam na rua. Temos é que entender isso, que isto é um problema de todos, um problema social nosso, cultural", afirmou Ricardo Lobo.

A Lusa contactou o secretário de Estado das Autarquias Locais, Carlos Miguel, e a Associação Nacional de Municípios Portugueses, que não se pronunciaram sobre o assunto.

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