Novos confrontos na Turquia ao décimo dia de protestos
Porto Canal / Agências
Istambul, 09 jun (Lusa) - Novos confrontos entre manifestantes e polícia estalaram durante a madrugada de hoje na Turquia e, ao fim de dez dias de protestos antigovernamentais, o partido no poder convocou uma concentração de apoio ao primeiro-ministro.
Dezenas de milhares concentraram-se nas ruas de Istambul, onde começaram os 10 dias de protestos, assim como na capital, Ancara, em outras cidades do país.
Durante a madrugada, os manifestantes queimaram pneus e lançaram fogo de artifício contra a polícia, que por seu lado lançou gás lacrimogéneo contra os manifestantes nas ruas de Istambul.
Em Ancara, a polícia utilizou ainda canhões de agua para dispersar os cerca de 10 mil manifestantes que se concentravam junto aos edifícios governamentais.
Os novos confrontos, mais um episódio daquela que é já a maior onda de protestos numa década de governo, fazem aumentar a pressão sobre o governo conservador e de raiz islâmica do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, que ordenou o fim dos protestos.
"Tayyip, demite-te!", gritavam os manifestantes, em protestos maioritariamente pacíficos.
No sábado, o governo insistira que os protestos estavam "sob controlo", mas em poucas horas uma das maiores multidões de sempre encheu a praça Taksim, em Istambul.
Durante a noite, o ambiente foi de festa naquela praça, onde não se veem polícias há mais de uma semana, com multidões de adeptos de futebol a mostrar bandeiras dos principais partidos e manifestantes a cantar e a dançar.
Entretanto, o partido de Erdogan convocou para hoje uma concentração de apoio ao primeiro-ministro, marcada para as 14:00 (hora de Lisboa) no aeroporto de Ancara, para dar as boas vindas ao governante, que a essa hora chega de Istambul.
À mesma hora está prevista uma nova jornada de protesto na praça Taksim, com a chegada de várias marchas que se prevê reunirem multidões.
Os protestos começaram a 31 de maio com a repressão violenta de uma manifestação de ecologistas para salvar um parque central de Istambul da demolição.
A manifestação transformou-se num protesto de nível nacional contra Erdogan e o seu partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), visto como cada vez mais autoritário.
Até agora, 4.000 pessoas ficaram feridas, dois manifestantes e um polícia morreram e três pessoas ficaram em coma, pondo em causa a imagem da Turquia como modelo de democracia islâmica.
Hoje, numa aparente tentativa de acalmar os ânimos, o governador de Istambul, Huseyin Avni Mutlu, acusado de ter ordenado a repressão policial que motivou a onda de protestos, pediu desculpas no Twitter e disse que gostaria de estar com os manifestantes na praça Taksim.
"Parece haver uma atmosfera calma na praça esta manhã. Gostaria de estar entre vocês", disse.
"Saúdo os jovens deste país que escolheram dormir na praça sob as estrelas em vez de ficarem nas suas camas quentes", escreveu ainda.
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