Maio de 68: Embaixada de Lisboa preocupada com movimentos esquerdistas

| Política
Porto Canal com Lusa

Lisboa, 22 abr (Lusa) -- O caráter geral das comunicações entre a embaixada de Portugal em França e o Ministério dos Negócios Estrangeiros em Lisboa, em 1968, é a preocupação sobre a manutenção do governo de Pompidou e o protagonismo dos movimentos de esquerda.

"O governo encontra-se agora forçado - como última solução - ao recurso de forças militares e policiais, sem que, de modo geral, se saiba de maneira segura qual será a reação destas forças neste período de anarquia que lembra a época de Kerensky na Rússia de 1917", considera a embaixada de Portugal em França no dia 17 de maio de 1968.

O mesmo aerograma "confidencial" disponível no Arquivo Histórico Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros indica que, em meados do mês de maio, o presidente francês Charles De Gaulle (1890-1970) "continua" na Roménia em viagem oficial.

"Sei, porém, de fonte romena absolutamente fidedigna, que o programa da visita tem sido prejudicado e anuladas várias cerimónias a fim de permitir que De Gaulle esteja em contacto quase permanente com Paris", informa a embaixada.

O documento indica que várias fábricas estão ocupadas pelos operários sob bandeiras vermelhas e que o mesmo se passa em diversas universidades.

"Existe grande inquietação não só nos meios políticos, mas, de maneira geral, em toda a população que tem consciência da gravidade do momento", escreve a embaixada acrescentando que a Bolsa de Paris tinha sido "atingida" por uma considerável depressão.

A embaixada de Portugal em França acrescenta que "uma parte da imprensa não reage com medo" do próximo futuro e a outra parte, "em mãos dos comunistas, criptocomunistas, progressistas e esquerdistas de vários matizes não esconde o entusiasmo".

A mensagem indica igualmente que "numerosos" professores universitários e do liceu tomam parte das manifestações de rua e que participam em debates com estudantes.

No final do mês, a embaixada considera que a "administração" do país "nas mãos de tecnocratas" inoperante em ações políticas levou a França à insurreição.

Nos últimos dias de maio a embaixada de Portugal em Paris estabelece os vários cenários políticos e que incluem a demissão do próprio chefe de Estado e a consequente tomada de poder por François Mitterrand ou Méndes France, substituindo o primeiro-ministro Pompidou até à realização de eleições.

Em concreto, a embaixada sublinha a realização da reunião do Conselho de Ministros e a reunião entre De Gaulle e os comandantes das tropas francesas de ocupação da Alemanha.

"Só agora começam a revelar-se certos sintomas de tomada de consciência dos perigos imediatos que ameaçam destruir a França", escreve o embaixador num telegrama transmitido no dia 29 de maio.

Destaca-se também um aerograma com data de 31 de maio e que indica que De Gaulle, durante o discurso dirigido ao país, decide continuar na Presidência da República porque tem a "legitimidade do povo francês".

"Fez o elogio das qualidades de Pompidou, que tem toda a confiança e que vai continuar como primeiro-ministro. O presidente anunciou que vai dissolver a Assembleia Nacional e proceder à remodelação do governo. Novas eleições serão fixadas nos termos e nos prazos previstos pela Constituição".

A embaixada sublinha que se joga o destino da França e o destino ulterior da Europa Ocidental.

"Dificilmente os 10 milhões de grevistas que paralisaram e asfixiam a vida deste país voltarão ao trabalho sob as injunções ou apelo do governo", considera a embaixada.

As eleições ficam marcadas para os dias 23 e 30 de junho dando a vitória aos gaullistas.

No primeiro semestre de 1968 uma das principais preocupações dos diplomatas portugueses em Paris é a presença de elementos da LUAR (Liga de Unidade e Ação Revolucionária), movimento anti-fascista português em solo francês e o processo de independência do Biafra.

Após os acontecimentos de maio as preocupações ligadas os tumultos estudantis vão-se dissipando sendo vários os telegramas referentes à reação das autoridades francesas sobre o futuro do regime português por causa do estado de saúde do ditador Oliveira Salazar, que na sequência de uma queda, no dia 03 de agosto, sobre um hematoma cerebral seguido de um acidente vascular cerebral.

PSP // SB

Lusa/fim

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