Ataque à Síria custou 20% da ajuda humanitária dos EUA, Reino Unido e França em 2017

| Economia
Porto Canal com Lusa

Lisboa, 21 abr (Lusa) - Os 105 mísseis disparados em minutos pelos Estados Unidos, Reino Unido e França contra a Síria custaram 20% de todos os seus contributos que entregaram em 2017 à agência da ONU que gere a ajuda humanitária no país.

No último sábado, os Estados Unidos, a França e o Reino Unido realizaram uma operação conjunta para punir o regime sírio do Presidente Bashar al-Assad pelo alegado uso de armas químicas em Duma, uma localidade rebelde perto de Damasco.

As forças armadas dos três países (os três aliados mais fortes no seio da NATO) atacaram três alvos na Síria com um total de 105 mísseis: 66 mísseis de cruzeiro Tomahawk, 19 novos mísseis ar-terra (que se estrearam em combate, munições conhecidas pela sigla JASSM), nove mísseis de cruzeiro franceses SCALP, oito mísseis de cruzeiro britânicos Storm Shadow e três mísseis de cruzeiro franceses na sua versão naval (lançados a partir de uma fragata).

No "briefing" no Pentágono que se seguiu ao ataque, o tenente-general norte-americano Kenneth McKenzie declarou que entre o primeiro e o último impacto dos mísseis mediou um a dois minutos.

De acordo com o orçamento anual da Marinha norte-americana (US Navy), cada um dos Tomahawk (versão Block IV), produzido pela Raytheon, custa 1,59 milhões de dólares. Ou seja, os 66 Tomahawk disparados (a partir do submarino USS John Warner, do cruzador USS Monterey e dos destroyers USS Laboon e Higgins) custaram 104,9 milhões de dólares (84,7 milhões de euros).

Já os mísseis de cruzeiro JASSM (Joint Air-to-Surface Standoff Missile), fabricados pela Lockheed-Martin, foram disparados por dois bombardeiros B-1B Lancer - que terão descolado de uma base no Qatar com uma escolta de caças. Cada um destes novos mísseis, segundo as previsões do orçamento da Força Aérea, custa cerca de 1,75 milhões de dólares. Os 19 mísseis têm, assim, um custo global de 33,2 milhões de dólares (26,8 milhões de euros).

No total, a Marinha e a Força Aérea norte-americanas lançaram munições no valor de 111,5 milhões de euros.

Quanto à França lançou três mísseis de cruzeiro (versão naval) a partir da fragata Languedoc, cada um deles no valor de 2,86 milhões de euros, segundo informação orçamental publicada pelo Senado francês relativa ao ano da compra: 2015. Vários caças-bombardeiros Rafale e Mirage lançaram outros nove mísseis de cruzeiro SCALP EG (Système de Croisière Autonome à Longue Portée -- Emploi Général), fabricados pela MBDA.

A fabricante europeia foi formada em 2001 através da fusão da francesa Aérospatiale-Matra Missiles (da EADS, agora Airbus), da italiana Alenia Marconi Systems (atualmente Leonardo) e da britânica Matra BAe Dynamics. Cada um dos SCALP tem um custo (estimado) para o Estado francês de 850 mil euros.

Ou seja, os três mísseis navais lançados pela fragata Languedoc custaram ao contribuinte francês 8,58 milhões de euros e os nove SCALP lançados pelos caças outros 7,65 milhões de euros. No total, a França gastou - só em munições (não contando com o custo associado à utilização das plataformas para os lançar) - 16,23 milhões.

O Reino Unido disparou oito mísseis de cruzeiro Storm Shadow (a designação britânica para os SCALP franceses, já que são o mesmo míssil), utilizando para o efeito quatro caças-bombardeiros Tornado, que descolaram do Chipre. De acordo com informação da Câmara dos Comuns britânica, cada Storm Shadow custa 790 mil libras (913 mil euros). No total, as forças britânicas gastaram 7,3 milhões de euros nas munições usadas no ataque.

A Rússia, principal aliado da Síria, alegou ter abatido em voo 71 dos 105 mísseis lançados pelos EUA, Reino Unido e França, mas os militares dos três países dizem que todos os seus projéteis atingiram os seus alvos.

No total, os três países dispararam contra a Síria, no passado sábado, mísseis no valor de 135 milhões de euros.

Este valor representa cerca de 20% (um quinto) da ajuda humanitária registada em nome dos governos dos EUA, Reino Unido e França junto do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA), em todo o ano de 2017.

O serviço de registo financeiro da UNOCHA registou 2,26 mil milhões de dólares de ajuda humanitária para a Síria em 2017 (1,82 mil milhões de euros). Este dinheiro foi entregue pelos doadores a agências da ONU, à Cruz Vermelha Internacional ou a ONG´s.

A UNOCHA, no seu relatório sobre o financiamento para a ajuda à Síria, indica que o governo dos Estados Unidos é o maior doador individual, com 531 milhões de dólares (429 milhões de euros). Ou seja, os 111,5 milhões de euros gastos em mísseis no sábado equivalem a 25,9% deste valor.

No caso da França, o governo francês doou em 2017 - pelos registos da UNOCHA - 16,8 milhões de euros, umas centenas de milhares de euros mais do que os 16,2 milhões gastos no sábado a bombardear instalações militares na Síria.

O Reino Unido é o terceiro maior contribuinte para a ajuda humanitária registada pela UNOCHA: 191 milhões de euros. Os 7,3 milhões de euros gastos em mísseis no sábado representam pouco menos do que 4% da ajuda humanitária destinada pelos britânicos à Síria.

Os três países também encaminham ajuda humanitária para a Síria através de outras entidades e organizações. Os Estados Unidos, por exemplo, afirmam ter destinado 7,7 mil milhões de dólares em ajuda à Síria desde o início do conflito, em março de 2011.

Um relatório do governo do Reino Unido publicado em fevereiro indica que Londres encaminhou 897 milhões de libras (1.03 mil milhões de euros) para a Síria de março de 2011 a 31 de dezembro de 2017.

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