Zimbabué: "É evidente que liderança de Mugabe chegou ao fim", antigo MNE português

| Política
Porto Canal com Lusa

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Lisboa, 21 nov (Lusa) -- O antigo chefe da diplomacia portuguesa António Monteiro considerou hoje ser evidente que a liderança do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe, 93 anos, chegou ao fim, mesmo que nada tenha, para já, ficado definitivamente resolvido.

Em declarações à Lusa, o diplomata e agora administrador num banco português realçou, por outro lado, o "cuidado" com que a crise político-militar no Zimbabué está a ser tratada, evitando-se o lugar-comum que há uns anos era muito frequente no continente de golpe de Estado militar.

"É evidente que a liderança de Mugabe chegou ao fim, pois não tem condições para prosseguir, pelo que o ideal seria, como (os militares) tentaram, que renunciasse, de maneira a possibilitar uma transição pacífica", sublinhou António Monteiro, que foi ministro dos Negócios Estrangeiros português entre julho de 2004 e março de 2015.

"Mas o facto de haver um esforço do lado africano, não apenas deles (zimbabueanos), de tentar evitar que tudo seja visto como um derrube por golpe militar e que seja mais integrado num processo mais democrático de mudança de líder, isso já abona a favor dos africanos", acrescentou.

António Monteiro lembrou que, no passado, em África, o comum era o golpe de Estado "puro e duro", numa altura em que "rolavam as cabeças" dos dirigentes.

"Agora já não temos isso e é um reconhecimento que tem de ser feito em relação à evolução em África", sustentou o diplomata português, manifestando esperança de que os próximos dias possam demonstrar que a crise no Zimbabué por ser resolvida pacificamente.

"Esperemos que, nos próximos dias haja uma solução que vá ao encontro daquilo que os africanos estão a defender: a ideia de que não é tanto um golpe de Estado que muda o regime, mas sim uma pressão feita para que o presidente reconheça que já terminou o seu tempo", explicou.

Sobre os acontecimentos recentes no Quénia, com a recusa da oposição em aceitar os resultados das eleições presidenciais de 26 de outubro, boicotadas pela oposição e que reelegeram Uhuru Kenyatta como chefe de Estado com 98% dos votos, António Monteiro lembrou que o país, em termos políticos, sempre teve problemas.

"O Quénia tem sido um dos países onde tem havido alguma contradição. Há um progresso económico, por vezes apontado até como exemplo de progresso e de atração de investimento, tem uma certa reputação internacional, mas politicamente tem sempre tido problemas", recordou, afirmando temer o pior.

"Nas eleições (de 2008), houve milhares de mortos e Kofi Annan [então secretário-geral das Nações Unidas] teve de fazer de mediador e tentar compor as coisas. Ciclicamente tem havido violência, e isso preocupa. Um país que, por um lado, tem esta nota positiva e, por outro lado, do ponto de vista político, tem tido continuamente problemas", acrescentou.

Para António Monteiro, é crucial saber o que irá fazer a seguir o líder da oposição, Raila Odinga.

"Agora, penso que esta posição do Odinga [de não aceitação dos resultados de uma eleição boicotada] é extremamente grave, pois pode voltar-se à situação de instabilidade, de guerra e de violência e, no Quénia, quando isso acontece, alastra com grande rapidez e com força", frisou, considerando que a ONU tem de estar "muito atenta".

JSD // VM

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