Primeiro-ministro guineense deposto faz recenseamento eleitoral em Cabo Verde
Porto Canal / Agências
Redação, 30 dez (Lusa) -- O primeiro-ministro deposto guineense, Carlos Gomes Júnior, fez o recenseamento eleitoral no sábado em Cabo Verde, disse hoje o próprio à Lusa, um gesto que marca o início da sua candidatura às eleições gerais da Guiné-Bissau.
"Desde o golpe de Estado que não estão criadas as condições para o meu regresso à Guiné. Como tinha uns assuntos a tratar em Cabo Verde e tive de me deslocar aqui, fiz o recenseamento", confirmou Gomes Júnior, via telefone, a partir da ilha de São Vicente.
A "candidatura de Carlos Gomes Júnior" enviou hoje um comunicado informando que o presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) se recenseou "este sábado, na cidade da Praia, em Cabo Verde, iniciando o processo de participação nas eleições gerais na Guiné-Bissau".
Liderada por um governo de transição desde o golpe de Estado militar de abril de 2012, a Guiné-Bissau devia ter realizado eleições gerais (legislativas e presidenciais) a 24 de novembro passado, mas estas foram adiadas para 16 de março do próximo ano.
Feito o recenseamento eleitoral, "Carlos Gomes Júnior oficializa o primeiro procedimento necessário para se apresentar como candidato presidencial às eleições", realça o comunicado da "candidatura".
Questionado pela Lusa sobre a razão para não ter feito o recenseamento eleitoral em Lisboa, país onde se refugiou após o golpe de Estado, Carlos Gomes Júnior justificou com a falta de condições para o fazer, já que "o processo ainda não começou" a ser feito entre a diáspora guineense de Portugal.
Gomes Júnior adiantou que vai passar "uns dias de férias" em Cabo Verde, devendo voltar a Portugal em janeiro e reafirmando a intenção de regressar depois à Guiné-Bissau.
"No entanto, para regressar, é fundamental que estejam reunidas as condições necessárias para que o processo eleitoral decorra com normalidade e segurança", frisou, enumerando: "liberdades de expressão e de manifestação, segurança para que todos os guineenses que queiram regressar à terra mãe o possam concretizar, de acordo com as premissas de um Estado de Direito democrático, (...) realização de eleições livres e justas, inclusivas e transparentes".
Reconhecendo que "acompanha com muita preocupação e tristeza o rumo" da Guiné, Gomes Júnior diz, no comunicado, esperar "que as autoridades ilegais que assumiram de forma ilegítima o poder (...) saibam terminar o processo de transição".
O presidente do PAIGC assinala que não basta "um governo inclusivo, com todas as forças políticas presentes" para ter "legitimidade popular", sendo necessário "concluir o processo de transição e devolver a palavra ao povo".
Alertando que "esta é a última oportunidade que a comunidade internacional oferece à Guiné-Bissau para que o país possa retomar o processo de normalidade democrática", Carlos Gomes Júnior apela para a "conciliação" nacional.
Entretanto, o governo de transição já anunciou que vai solicitar ao parlamento guineense o alargamento do prazo do recenseamento eleitoral por mais 15 dias. O processo deveria terminar na terça-feira, último dia do ano, mas todas as autoridades envolvidas admitem que será impossível registar os 800 mil potenciais eleitores até essa data.
SBR (MB) // HB
Lusa/Fim