Cerca de 200 trabalhadores da Efacec em greve em Matosinhos e na Maia
Porto Canal com Lusa
Porto, 27 out (Lusa) -- Mais de 200 trabalhadores da Efacec estiveram esta manhã em greve nos dois polos da empresa, no distrito do Porto, contra "despedimentos" e "alterações de funções sem consentimento" dos funcionários, disse à Lusa o sindicalista José Marques.
"Na zona da energia [com instalações em Matosinhos], estamos a falar de 400 trabalhadores abrangidos por estes problemas. Em greve, cá fora, estão 200. Lá dentro há trabalhadores que concordam com a paralisação, mas têm medo por causa do assédio existente na empresa. Na unidade de mobilidade elétrica [com instalações na Maia], estarão em greve cerca de 30 pessoas. É lá que existe a maior quota de rescisões por mútuo acordo, mas como os trabalhadores estão mais perto do poder sentem mais a repressão", descreveu José Marques, do SITE-Norte (Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Norte).
O responsável falava à Lusa por volta das 09:30, no polo industrial da Arroteia, concelho de Matosinhos, sobre a greve convocada pelo SITE-Norte, que decorreu também nas instalações da empresa na Maia, dividida por dois turnos, em ambos os casos: entre as 09:00 e as 11:00 e entre as 17:00 e as 19:00.
"A alteração de funções, as rescisões, o banco de horas e a flexibilização de horários são transversais a todas as unidades [da Efacec]", descreveu José Marques.
De acordo com o sindicalista, com as medidas que a empresa tem vindo a implementar, "já estão a acontecer" casos de "acumulação de funções sem consentimento do trabalhador", o que corresponde a uma "desvalorização profunda do valor da mão da obra".
"O trabalhador fica sem ter um posto de trabalho permanente. A empresa, se o quiser colocar noutro setor fá-lo sem o seu consentimento. O trabalhador deixa de ter o direito de manifestar a sua posição", afirmou José Marques.
O responsável nota ainda que "ter ou não ter contratos de trabalho" é "praticamente a mesma coisa", já que os documentos foram transformados numa "formalidade", pois "todos os direitos são prescindidos logo à partida".
De acordo com o sindicalista, "a administração da Efacec começou a usar o instrumento legal de empresa em reestruturação para levar a cabo rescisões por mútuo acordo", mas fê-lo mandatando "diretores e chefias para elaborarem uma lista de trabalhadores possivelmente excedentários".
"Pegando nesse instrumento legal, foram fomentando o medo e a instabilidade no seio dos trabalhadores. Muitos não sabem por que foram incluídos na lista", alertou José Marques.
O responsável, que é também representante da Comissão de Trabalhadores (CT) descreve que, depois disso, foi colocada aos funcionários "a possibilidade de integrarem a mobilidade elétrica", pelo que os trabalhadores "começaram a sentir que estavam a ser empurrados para a rescisão ou para a ingressão na [outra] unidade de negócios".
José Marques indica ainda uma "terceira situação", referindo a extinção do posto de trabalho por parte de chefias que "não estavam devidamente mandatadas pela administração para o fazer".
A Lusa tentou, sem sucesso, obter uma reação da empresa sobre a greve.
Na terça-feira, fonte oficial da Efacec disse à Lusa que a empresa "respeita o direito à greve, mas considera que não existem fundamentos para a convocação da mesma".
"A empresa não se revê nas acusações feitas, que não correspondem à realidade", sublinhou a fonte, acrescentando que a administração, desde que assumiu funções, há dois anos, "sempre assumiu uma postura de diálogo com os trabalhadores e com as suas estruturas representativas".
A Efacec "encontra-se num processo de transformação, iniciado em outubro de 2015, que visa adequar a empresa à nova realidade dos mercados, às necessidades dos seus clientes e à crescente competitividade da concorrência" e implementou um novo modelo de gestão de recursos humanos, adiantou a mesma fonte.
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