Sócrates classifica acusações do MP como "lamaçal de vitupérios"

| Política
Porto Canal com Lusa

O ex-primeiro-ministro José Sócrates classificou este sábado, no Porto, as acusações do Ministério Público (MP) como "um lamaçal de vitupérios", mostrando-se convencido de que essa "coletânea de insultos" não vai perdurar.

"Como se pode classificar uma coletânea de insultos daquela? Talvez desta forma como já alguém dizer, como um lamaçal de vitupérios, mas ao MP não compete insultar as pessoas, compete, isso sim, apontar o dedo, mas fundamentar aquilo que tem para dizer, e infelizmente o MP não o faz", afirmou Sócrates aos jornalistas, ao final da tarde, após a sessão de apresentação do seu novo livro.

Para o ex-primeiro-ministro, "se o MP pensa que esses insultos perduram, está enganado, está equivocado", porque "a mentira não pode durar pela simples razão de que houve muita gente que assistiu a tudo, que participou e que sabe que as coisas não se passaram assim".

"Quando o MP decide juntar dois processos, trazer Ricardo Salgado, Henrique Granadeiro e Zeinal Bava para este processo fá-lo (...) com a expectativa de salvar este processo, isto é, como bóia de salvação", disse, acrescentando que, "todavia, isto não vai salvar este processo".

Sócrates sublinhou que se "o MP pretende agora contar às pessoas uma fantasia, uma teoria geral completamente divorciada daquilo que se passou, engana-se".

Questionado se este é um dos piores momentos da sua vida, Sócrates rejeitou a ideia, afirmando que "já houve piores", frisou, adiantando que olha para a vida "com a alegria de quem traz rosas e de quem traz espinhos".

"E tenho orgulho em fazer uma batalha por mim próprio e para defender o meu governo e as políticas que conduzimos, e lutar contra quem quer criminalizar as bandeiras políticas principais do governo a que eu presidi, nomeadamente TGV, a reparação e reconstrução das escolas, nomeadamente esses inquéritos que querem fazer às PPP, e inquéritos relativamente às rendas", disse.

Segundo disse, "curiosamente são tudo matérias que a direita política criticou", que "faziam parte da controvérsia politica", mas que nunca lhe passou pela cabeça que "alguém tentasse agora instrumentalizar a justiça para criminalizar essas politicas".

"Não terão sucesso, não terão sucesso", vincou.

O ex-governante socialista argumentou que, por exemplo, em 2010, o "Estado usou a sua 'golden share' para travar um negócio de venda da Vivo, no Brasil, que punha a PT fora do Brasil", e fê-lo em "defesa do interesse nacional, fê-lo contra os interesses do grupo Espírito Santo, contra interesses, legítimos naturalmente, privados".

Acrescentou que, entre 2010 e 2014, "altura em que acabaram a 'golden share' sem a substituir por nada", foi o período "em que as disponibilidades financeiras da PT mais foram aplicadas no BES", passando "de 50%, em 2010, para 98%".

"E agora querem-me atribuir as responsabilidades por isso? Desculpem, estão enganados, isso é uma fantasia que não resiste, como se sabe muita gente acompanhou e sabe que não foi assim, é uma mentira que tem perna curta", concluiu, abandonando o local.

O Ministério Público acusou na quarta-feira José Sócrates por 31 crimes, repartidos por corrupção passiva de titular de cargo político, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude fiscal qualificada.

Além de José Sócrates, foram acusados na Operação Marquês o empresário Carlos Santos Silva, amigo de longa data e alegado testa de ferro do antigo primeiro-ministro, o ex-presidente do BES Ricardo Salgado, os antigos administradores da PT Henrique Granadeiro e Zeinal Bava e o ex-ministro e antigo administrador da CGD Armando Vara.

No total, na Operação Marquês foram acusados 28 arguidos, 19 pessoas e nove empresas, por um conjunto de 188 crimes.

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