"Galdérias" voltam a marchar no Porto contra banalização da violência de género

| Norte
Porto Canal com Lusa

Porto, 17 set (Lusa) - Cerca de cem pessoas manifestaram-se na noite de sábado, no Porto, em prol da igualdade de género e contra a violentação e discriminação das mulheres, na quinta "Marcha das Galdérias", que se realiza na cidade desde 2011.

Entre cinco mulheres e um homem entrevistados pela agência Lusa, a definição da palavra feminismo foi um dos temas que mais preocupação suscitou, por receios de que seja entendida "como o equivalente feminino do machismo", disse uma das organizadoras, Carolina Marcelo, sublinhando que o termo "não implica mais que a luta pela igualdade entre os sexos".

"[O contrário] foi-nos ensinado por um mundo machista, que quer que as mulheres sejam submissas e que haja diferenciação entre géneros", considerou a organizadora de 28 anos, cujo último caso de assédio sexual ocorreu no Parque da Cidade do Porto, com uma amiga, quando "apareceu um homem que começou a despir-se e a masturbar-se".

"Chamámos a polícia, veio um carro, e os agentes riram-se na nossa cara - desvalorizaram - disseram que era 'só um atentado ao pudor'. Eles próprios não estavam informados e tivemos que ser nós a invocar a legislação", lamentou a ativista, aludindo à promulgação da chamada "Lei do Piropo", de 2015, que criminaliza a importunação de cariz sexual, por meio verbal ou físico.

Para Carolina Marcelo, a lei é "ainda difícil de aplicar", na medida em que é "quase impossível manter no sítio quem manda bocas e apresentar queixa", mas sobretudo porque "a própria polícia diz que é uma 'coisa menor', que é melhor ignorar".

Estudante no Ensino Secundário, de 17 anos, Luísa Barateiro ajudava a desfilar um cartaz com a mensagem "O único remédio é acabar com o assédio", enquanto reivindicava que "todo o tipo de pequeno preconceito, de ajudas ou facilitamentos - muitas vezes interpretados como cavalheirismo - muitas vezes são machismo".

"Ajudar a mulher a fazer isto ou aquilo porque ela não tem capacidade não corresponde à verdade", considerou a estudante, partindo do princípio de que é uma questão de respeito "poder ter uma vida normal como qualquer homem pode ter".

Luísa Barateiro marchou no sentido de "não ser superior a ninguém, mas ter os mesmos direitos que os homens têm e poder aceder a um salário igual, que muita gente pensa que já existe, apesar da Lei da Paridade de género, porque ainda há muito a fazer".

Questionado quanto aos privilégios de que pode beneficiar por ser do sexo masculino, João Teixeira, professor de Dança, mestre em Engenharia Física e manifestante na Marcha das Galdérias, disse à Lusa que passam sobretudo pelo tratamento enquanto "alguém que sabe do que fala, só pelo facto de ser homem".

"Ainda há muito o estereótipo de que a mulher não sabe bem o que está a dizer sobre alguns assuntos. Depois, gozo de uma liberdade na rua que as mulheres também não têm, porque são assediadas a qualquer momento, por qualquer pessoa, desde que não estejam acompanhadas por um homem. Basta isto para ilustrar o quão escandalosa é a diferença: basta ter um homem lá, que já não passa por isso", frisou o manifestante.

Jornalista em Gondomar, Nadine Santos, de 21 anos, disse entender que "a Lei do Piropo não veio a resolver muita coisa, porque não basta a legislação, tem que haver uma consciencialização da população e, só a partir daí, é que as coisas vão mudar".

"Há que mantermo-nos firmes e às vezes ripostar, porque às vezes a ignorância também tem a ver com ficarmos caladas e não darmos a mostrar ao outro lado o que se passa", concluiu, prestes a juntar-se à marcha com um cartaz em que se lia: "O teu machismo dá-me tesão". Ao verem o cartaz, um grupo de cinco homens entre os 20 e os 30 anos, de cerveja em mão, lançou uma série de insultos.

Partindo da praça Carlos Alberto até à rua dos Clérigos, a estudante do secundário Luísa Barateiro elogiou a crescente participação de homens ao longo das sucessivas marchas feministas no Porto, salientando que "um homem deve também poder lutar pela igualdade, como uma coisa legítima."

"É bonito ver um homem a lutar pelos direitos das mulheres", disse à Lusa.

A Marcha das Galdérias tem sido organizada à imagem da "SlutWalk", criada em Toronto, no Canadá, iniciada depois de um agente policial local ter declarado publicamente que as mulheres deviam vestir-se de forma mais recatada para não serem vítimas de ataques sexuais.

ACYS // EJ

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