Fundação Ricardo Espírito Santo "em fase de retoma" mas ainda tem dívida
Porto Canal com Lusa
Lisboa, 20 jul (Lusa) - A administradora executiva da Fundação Ricardo Espírito Santo (FRESS), Conceição Amaral, afirmou hoje que esta entidade ainda enfrenta a resolução de uma dívida, devido ao impacto da crise financeira do BES, mas está "numa boa fase de retoma".
Contactada pela agência Lusa sobre a situação atual da instituição, devido às denúncias cíclicas, feitas por funcionários com salários em atraso, a responsável indicou que os vencimentos têm vindo a ser regularizados, "com todos os esforços" da FRESS.
"Houve a necessidade de resolver muitos problemas e ainda estamos a resolver alguns deles. A negociação da dívida existente, desde final de 2014, que não aumentou mas não foi ainda resolvida, é o maior impedimento", explicou Conceição Amaral.
O colapso do seu mecenas principal, o Banco Espírito Santo (BES), em 2014, deixou graves dificuldades financeiras à instituição, que tem cerca de uma centena de funcionários dispersos pelas atividades de restauro e ensino.
A FRESS possui o Museu de Artes Decorativas e 18 oficinas de artes e ofícios tradicionais portugueses, que ensinam intervenção especializada no património, nas vertentes de conservação e restauro.
Tutela ainda duas escolas para ensino das Artes: a Escola Superior de Artes Decorativas e o Instituto de Artes e Ofícios.
"A busca da sustentabilidade é o que se está a tentar e a conseguir aos poucos. Foi preciso credibilizar e dar confiança aos muitos clientes que se foram perdendo. Estamos numa boa fase de retoma, o que é visível nas encomendas e nas adjudicações de trabalhos", salientou a administradora executiva.
Para essa retoma, "os parceiros foram e são essenciais", sublinhou Conceição Amaral, acrescentando que, "sem eles, a FRESS já teria encerrado".
A ideia dos protocolos com os parceiros - entre eles a Santa Casa da Misericórdia, no ano passado - "não foi para serem apenas mecenas ou financiadores da FRESS e substituírem o Grupo Espírito Santo, mas sim para ajudar a encontrar caminhos de sustentabilidade futura, para não voltarmos a ter novamente sobressaltos como tivemos em agosto de 2014".
Quanto à estratégia de futuro para a FRESS, a responsável sustentou que "não é de certeza voltar a estar dependente de apoios mensais, mas sim criar uma estrutura forte e competitiva e que consiga sozinha garantir a sua sustentabilidade".
Recordou que a FRESS "nunca teve um fundo inicial como rendimento fundacional, mas é conseguido, como sempre o foi, por via das receitas próprias e dos apoios mecenáticos ou outros, que um qualquer projeto patrimonial e de interesse público requer".
Em maio de 2016, a FRESS assinou uma parceria nas áreas da formação e restauro de património com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), por cinco anos.
Na altura, a administradora executiva da FRESS disse à Lusa que não foi definido um montante financeiro de apoio naquela parceria, "que pressupõe um trabalho nas áreas na educação, formação e intervenção da Fundação, no restauro de património da Santa Casa".
Relativamente a outros apoios, a fundação recebe 200 mil euros anuais da Câmara Municipal de Lisboa, para atividades culturais e turísticas, e 140 mil do Fundo de Fomento Cultural, através do Ministério da Cultura, pelo seu interesse cultural.
Em 2014, a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) - justificando que a coleção de arte da FRESS era um património relevante para o país - abriu um processo de classificação da coleção reunida por Ricardo Ribeiro Espírito Santo Silva (1900-1955), que se destacou como o maior colecionador de arte portuguesa do século XX.
AG // MAG
Lusa/Fim