Família de jovem em estado vegetativo desde cirurgia processa Hospital São João

| Norte
Porto Canal com Lusa

A família de uma jovem submetida no Hospital de São João, no Porto, a uma cirurgia que a deixou em estado vegetativo, apresentou uma queixa-crime e interpôs uma ação cível, pedindo uma indemnização de cerca de 960 mil euros.

Atualizado 22-06-2017 20:21

O caso ocorreu há três anos quando Maria do Céu, então com 17 anos e com “uma vida perfeitamente normal”, foi submetida a “uma cirurgia para reparação de defeito do septo interauricular com excerto de tecido”, contou à Lusa o pai da jovem.

Uma intervenção que, acrescentou, o cirurgião do Hospital de São João “garantiu 99% de sucesso” por ser uma cirurgia “vulgar” e que “só se houvesse um ‘tsunami’ é que correria mal”.

Cerca de sete horas após o início da operação, o cirurgião terá informado a família que a intervenção teria corrido “muito mal” e que a jovem tinha entrado em “coma”.

“Na altura, o cirurgião explicou-nos que foi uma falha relacionada com uma cânula responsável pela oxigenação. Não sabemos como é que isso aconteceu e quanto tempo durou”, alega Manuel Fernando.

Segundo afirmou à Lusa foi apresentada “uma queixa-crime no Departamento de Investigação e Ação Penal [DIAP] do Porto e em fevereiro deste ano foi interposta uma ação cível no Tribunal Administrativo e Fiscal [TAF] do Porto”.

A Lusa confirmou junto do advogado da família que a queixa-crime, por alegada prática de um crime de ofensa à integridade física por negligência, que se encontra em segredo de justiça, deu entrada a 26 de fevereiro de 2016 no DIAP do Porto.

Já a 09 de fevereiro deste ano deu entrada no TAF do Porto uma ação cível contra o Hospital de São João e respetiva equipa cirúrgica por “danos patrimoniais e não patrimoniais sofridos”, na quantia global de cerca de 960 mil euros.

Nesta ação cível, a que a Lusa teve acesso, é alegado que o cirurgião chefe admitiu a ocorrência de uma “falha” e que durante um tempo que não pôde precisar, mas que “poderia ter sido entre os 10 e os 20 minutos após o início da cirurgia, ter-se-ia verificado que a cânula teria ficado incorretamente colocada ou estaria incorretamente colocada”.

“Esta situação ocorrida com a colocação da cânula originou, consequentemente, a falha na oxigenação da Maria do Céu” pelo que, na conversa alegadamente mantida com a família, o médico-cirurgião “tinha a nítida convicção que a Maria do Céu não resistiria mais que umas horas, deixando claro que esse resultado advinha do erro ou lapso médico protagonizado pela sua equipa”, argumenta o causídico.

A paciente sobreviveu, mas encontra-se com “tetraplegia espástica, afásica e disfagia neurogénica, sofrendo de encefalopatia de causa anóxica pós cirurgia cardíaca”, descreve o advogado Armandino Esteves.

Ou seja, “não mexe nenhum dos seus membros, não fala e não come”, sendo alimentada por uma sonda, tem “uma incapacidade definitiva e absoluta” e encontra-se “num estado de dependência absoluta”, de acordo com a descrição do advogado.

“O hospital não se responsabiliza por nada, nem sequer pelo estado de saúde. Infelizmente, como eles não se responsabilizam cabe-nos a nós, família, pagar muitas despesas”, disse à Lusa o pai da jovem, Manuel Fernando.

“Chegamos a gastar 687 euros por mês em medicamentos com a minha filha”, frisou.

Manuel Fernando afirmou que “enviava as despesas para o São João, mas não obtinha resposta” e que a filha, por iniciativa da família, “está agora a ser acompanhada no Hospital de Santo António”, também no Porto.

Contactado pela Lusa, o Conselho de Administração do Hospital de São João confirma que “a doente Maria do Céu Brito foi operada no Serviço de Cirurgia Cardiotorácica em 21 de fevereiro de 2014” e que em face do “inesperado resultado da cirurgia”, e sob proposta do diretor do Serviço de Cirurgia Cardiotorácica, o Conselho de Administração determinou “a instauração de um processo de inquérito, o qual foi concluído em 13 de março de 2014”.

O relatório final do processo de inquérito determinou o arquivamento dos autos por “não ter sido detetada nenhuma negligência médica e o estado da arte ter sido cumprido tanto a nível anestésico, como a nível cirúrgico e a nível da circulação extracorporal”.

Na resposta escrita enviada à Lusa, o Centro Hospitalar de São João garante que tem apoiado a doente e os seus familiares, nomeadamente através da Consulta da Dor e do Serviço de Cirurgia Cardiotorácica.

“O Centro Hospitalar de São João, que profundamente lamenta esta e todas a situações de insucesso terapêutico da instituição, assumiu e continua a assumir na íntegra as suas responsabilidades no presente caso”, acrescenta.

+ notícias: Norte

Homem fica preso entre camião e muro em Viana do Castelo

Um acidente de trabalho fez uma vítima, esta sexta-feira de manhã, na freguesia de São Romão de Neiva, em Viana do Castelo, avançou ao Porto Canal fonte do Comando Territorial de Viana do Castelo.

“Fui ao mar buscar água para lavar a louça”. 14 pessoas vivem sem água e luz no parque de campismo de Cortegaça

Sem acesso a água potável e eletricidade. É assim que 14 pessoas ainda vivem no parque de campismo de Cortegaça, no concelho de Ovar. Dívidas contraídas pela anterior gestão da infraestrutura estão na origem de um problema cuja solução, mais de meio ano depois, poderá chegar já no final do mês de abril.

Há 400 presépios para ver em Barcelos

Em Barcelos desde o início deste mês que estão em exposição em vários espaços mais de 400 presépios de artesãos do concelho. Uma óptima oportunidade para conhecer mais e melhor do artesanato barcelense.