Grupo BIC quer comprar banco comercial em Cabo Verde
Porto Canal / Agências
Cidade da Praia, 06 dez (Lusa) - O grupo luso-angolano BIC, que tem em Cabo Verde o BIC IFI (instituição financeira internacional), pretende comprar um banco comercial no arquipélago, disse hoje na Cidade da Praia fonte oficial.
A intenção ficou expressa numa conferência de imprensa em que estiveram presentes o presidente do Conselho de Administração do BIC Angola e BIC Portugal, Fernando Teles, o presidente da Comissão Executiva do BIC Portugal, Mira Amaral, e o administrador do BIC Portugal, Jaime Pereira.
Fernando Teles, Mira Amaral e Jaime Pereira não indicaram qual o banco comercial em vista, sublinhando estar tudo ainda em aberto, mesmo a manutenção das operações através da IFI que mantém em Cabo Verde, admitindo, porém, que tem havido contactos com o Governo, banco central e os quatro bancos locais.
No arquipélago existem quatro bancos comerciais - Interatlântico (BI) e Comercial do Atlântico (BCA), ambos detidos maioritariamente pelo Grupo Caixa Geral de Depósitos (Grupo CGD), o Cabo-Verdiano de Negócios (BCN), ligado ao BANIF, e a Caixa Económica de Cabo Verde (CECV), cujos principais acionistas são empresas públicas locais (Segurança Social e Correios) e a Geocapital.
A ideia de um banco comercial, segundo explicou Jaime Pereira, é criar uma plataforma africana para a concretização de investimentos e operações no exterior, e coordenar a oferta de produtos e serviços com as operações do BIC nos diversos mercados e jurisdições onde atua (Angola e Portugal).
Indicando que o Grupo BIC irá abrir, em janeiro próximo, um escritório de representação em Joanesburgo (África do Sul) e que está em vias de adquirir bancos na Namíbia e no Brasil, Jaime Pereira salientou que há ainda vários fatores de que dependem a instalação em Cabo Verde.
Entre eles, sublinhou Jaime Pereira, está a aprovação, pelas autoridades cabo-verdianas, da nova Lei de Bases do Sistema Financeiro e a Lei das Instituições Financeiras, anteprojetos que foram postos em discussão em abril deste ano e que preveem a possibilidade de alargamento da atividade bancária e definem o enquadramento normativo de toda a atividade no país.
A promulgação dessas leis, assegurou, vai permitir submeter um pedido de transformação do BIC IFI, atualmente com capitais próprios de 30 milhões de euros - "se quiséssemos abríamos já um" -, para um banco comercial de "largo espetro" na atividade bancária, com agências espalhadas pelo arquipélago.
A nova legislação, ainda por aprovar, poderá também definir se as entidades IFI podem agir como banco comercial, possibilidade encarada pelo Grupo BIC.
"Estamos a olhar para o mercado e poderemos fazer alguma oferta ou avaliar alguma possibilidade que nos pareça razoável como alternativa a uma expansão direta", salientou, secundado por Fernando Teles.
"Agradava-nos mais criar um banco de raiz, mas também temos consciência que o mercado cabo-verdiano não tem grande dimensão e, se calhar, é mais fácil crescermos através de aquisições, tal como fizemos em Portugal", ressalvou Fernando Teles, lembrando a aquisição de cerca de 200 agências bancárias do BPN.
Fernando Teles considerou que Cabo Verde, apesar de pequeno mercado, "tem potencial", tendo como "petróleo" o setor do Turismo, o que poderá trazer novos empresários, parcerias e investimentos, sobretudo num país onde reina a estabilidade política.
Questionado pela agência Lusa sobre se a instalação do Grupo BIC em Cabo Verde pode servir como uma porta de entrada na corrida às privatizações previstas para os transportes aéreos e marítimos, energia, portos e água, Fernando Teles não descartou tal possibilidade, lembrando que há companhias de aviação angolanas, por exemplo, que querem apostar no mercado cabo-verdiano.
Em relação às dificuldades dos empresários cabo-verdianos no acesso ao crédito, Fernando Teles indicou que o Grupo BIC, sendo "muito forte" em Angola e "importante" em Portugal, tem uma abordagem diferente da gestão, "que tem de estar com os clientes e de os incentivar a investir".
"Não vou esconder que é em períodos de crise que se fazem os melhores negócios", salientou Fernando Teles, para quem as dificuldades sentidas na banca cabo-verdiana e no financiamento do próprio Estado abrem boas oportunidades para quem tem liquidez.
Quanto à presença já em Cabo Verde do Banco Africano de Investimentos (BAI), de capitais angolanos, Fernando Teles assumiu tratar-se, ao mesmo tempo, de "um concorrente e um parceiro", defendendo que cada um pode seguir o seu caminho, mas que se podem juntar num sindicato para operações e investimentos de maior valor.
A delegação do Grupo BIC, que deixa a Cidade da Praia hoje à noite, manteve de manhã encontros com a ministra das Finanças cabo-verdiana, Cristina Duarte, e com o Governador do Banco de Cabo Verde, Carlos Burgo, que não falaram à imprensa.
JSD// ATR
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