Guiné Equatorial é "prisão gigantesca" sem "qualquer liberdade"

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Porto Canal com Lusa

Lisboa, 25 mai (Lusa) -- O escritor equato-guineense Donato Ndongo-Bidyogo, exilado há mais de 20 anos, afirmou hoje à Lusa que a Guiné Equatorial é "uma prisão gigantesca", onde "não há qualquer tipo de liberdade".

"Entre nós, equato-guineenses, comentamos que a Guiné Equatorial é uma prisão gigantesca. Não há uma única liberdade, de nenhum tipo. Não se articularam as liberdades políticas, nem as liberdades civis. A convivência étnica está a deteriorar-se", disse o escritor e jornalista, em entrevista à agência Lusa.

O país vive "uma série de problemas, porque o Presidente, Teodoro Obiang, não foi capaz, simplesmente, de dirigir o país", desde que chegou ao poder, em agosto de 1979, considerou o Donato Ndongo, que se encontra em Portugal para participar numa conferência organizada pelo ISCTE sobre "Literatura e Opressão".

O escritor vive no exílio, em Espanha, afirmando ter sido ameaçado de morte em 1994 "pelo secretário de Estado da Segurança, tio de Obiang", quando era delegado da agência espanhola de notícias, EFE, para a África central, a partir de Malabo, capital da Guiné Equatorial, por noticiar "assassinatos em esquadras de polícia, torturas, corrupção ou o próprio Governo se apropriar da ajuda internacional" que se destinava ao povo.

"Cada dia a mais, cada semana a mais, cada mês a mais que Teodoro Obiang continue no poder vai contra os interesses do povo da Guiné Equatorial e, por conseguinte, é inadmissível", defende, garantindo que, ao contrário do discurso das autoridades equato-guineenses, os cidadãos não têm visto melhorias nas suas condições de vida.

Falta luz e água corrente em quase todo o país, incluindo em "cidades importantes, como Bata", falta a gasolina, apesar de o país ser um grande produtor de petróleo, há muito desemprego e até a mortalidade infantil está a aumentar, relatou.

Donato Ndongo sustenta que Obiang nunca foi eleito pelos seus compatriotas porque não se realizam, no país, eleições livres.

"O que sei com toda a certeza foi que nenhum guineense pôs Obiang no poder. Nenhum compatriota o mantém no poder", afirmou.

Ndongo sublinhou que, "sem pudor", Obiang reclama vitórias com "percentagens escandalosas que ultrapassam os 95 por cento".

"Um democrata, na Europa ou em qualquer parte do mundo, não pode considerar que sejam eleições", referiu, comentando que há "14 ou 15 partidos legalizados, mas não os deixam funcionar, na prática".

A oposição a Obiang é, na opinião do escritor, generalizada na Guiné Equatorial.

"Tenho a certeza que 99,9% dos equato-guineenses, incluindo muitos ministros e embaixadores, estão na oposição, mas não o podem manifestar, por medo", afirmou.

Donato Ndongo garante que há alternativas ao regime de Obiang: "Todas as sociedades, incluindo as africanas, têm em si mesmas os mecanismos para a sua própria regeneração".

Há, no entanto, um progresso a registar "nos últimos quatro, cinco anos", segundo o ativista.

"A sociedade, no seu conjunto, conseguiu perder o medo e fala livremente. Estamos cansados de nos sacrificar para que outros sejam beneficiados", sustentou.

O escritor advoga que os intelectuais têm a capacidade de "defender a verdade face às mentiras, manipulações ou à ignorância dos poderes constituídos".

"O pensamento africano é desconhecido, continua a haver uma visão paternalista e colonialista" em relação ao continente, lamentou, defendendo que "o papel que desempenham os intelectuais deve ser valorizado e conhecido".

Nascido em 1950, Donato Ndongo é um antigo jornalista e escritor. Entre as suas obras, contam-se "História e Tragédia da Guiné Equatorial", "Sombras da tua memória negra" (em tradução livre do espanhol "Las tinieblas de tu memória negra", a sua obra mais aclamada) ou "Espanha na Guiné. Construção do desencontro: 1778-1986".

Já este ano, lançou "O sonho e outros relatos", que está a ser traduzido para português e será lançado no Brasil, e também o livro de poesia "Olvidos".

Organizações internacionais relatam graves violações de direitos humanos na Guiné Equatorial, antiga colónia espanhola que em 2014 entrou para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

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