"Um pássaro não faz a primavera" - economista Olivier Blanchard

| Economia
Porto Canal com Lusa

Lisboa, 19 mai (Lusa) - O economista Olivier Blanchard aconselha "cautela" em relação ao crescimento do primeiro trimestre deste ano, alertando que "não vai durar" e que "um pássaro não faz a primavera".

Num encontro com jornalistas a propósito do estudo "Portugal: daqui para onde?", assinado por Blanchard e pelo economista Pedro Portugal sobre os desafios do país para os próximos 10 anos, o economista francês disse que "é preciso ter cautela" em relação ao desempenho da economia portuguesa no primeiro trimestre, que cresceu 1% face ao trimestre anterior e 2,8% em termos homólogos.

"Não acho que vá durar. As previsões para o crescimento da produtividade ainda não são muito boas, há ainda muitas dimensões em que as coisas não estão bem", advertiu.

Blanchard argumentou que os motivos que explicam o desempenho das exportações não são fáceis de entender: "A que se deve? Vai durar? Não sabemos e um pássaro não faz a primavera", resumiu.

O antigo economista do Fundo Monetário Internacional (FMI) admitiu que "a recuperação está a acontecer", alertando no entanto que "a questão é saber que medidas podem ser tomadas agora para reforçar [esta retoma da economia] no futuro".

Sublinhando que é politicamente mais simples implementar reformas no mercado de produto do que no mercado de trabalho, Olivier Blanchard defendeu que, no mercado laboral, é preciso que a proteção ao emprego seja simplificada.

"Acredito na proteção ao emprego e que quando as pessoas perdem o trabalho precisam de ser compensadas. Mas ter um trabalho por seis meses não é o mesmo que ter um trabalho por 30 anos", exemplificou.

Para Blanchard, o pagamento de indemnizações deve ser reformado para que "não haja dois regimes, um em que não há praticamente indemnização para alguns trabalhadores e outro em que há indemnizações muito elevadas e com intervenção judicial para outros", acrescentando que "é preciso limitar a intervenção judicial" nesta matéria para que "as empresas saibam o que vai acontecer quando despedirem alguém".

No estudo que é apresentado hoje em Lisboa, os autores sublinham que uma reforma do mercado de trabalho em Portugal "deve reduzir esta dualidade, simplificar a proteção ao emprego e tornar os custos mais previsíveis para as empresas" e defendem que um aumento do salário mínimo como previsto e prometido pelo Governo terá "efeitos adversos no emprego", sobretudo para os trabalhadores pouco qualificados, "a menos que as contribuições sociais sejam reduzidas", uma medida que teria de ser neutra do ponto de vista da receita.

Quanto aos mercados de produto, os autores reiteram que as reformas que facilitem a entrada de novos operadores e que aumentem a concorrência "podem ter grandes efeitos na produtividade" e que, por isso, "devem manter-se como uma prioridade".

No documento, Olivier Blanchard e Pedro Portugal consideram que, quando há dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida, é preciso que haja consolidação orçamental mesmo que isso penalize o crescimento, mas sublinham que, se em 2009 foi esse o caso de Portugal, "hoje as circunstâncias são diferentes e não justificam uma consolidação orçamental mais forte".

Defendendo que "a redução do rácio da dívida sobre o PIB vai ser um processo lento em qualquer caso", os autores afirmam que "a prioridade deve ser aumentar o crescimento e permitir uma redução mais rápida daquele rácio ao longo do tempo".

No entanto, dizem que esta opção não deve excluir "mudanças na composição da receita e da despesa" feitas, por exemplo, através de uma diminuição das contribuições sociais em troca de um aumento da taxa do IVA" - uma opção que reconhecem poder não se justificar agora, colocando a tónica no nível da taxa de IVA - ou, em alternativa, financiar os benefícios de saúde e de desemprego através de impostos sobre o rendimento e não através de contribuições sociais e, desta forma, diminuir os custos do trabalho.

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Lusa/fim

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