Poupanças das famílias em Portugal insuficientes para compensar endividamento das empresas e administrações públicas

Poupanças das famílias em Portugal insuficientes para compensar endividamento das empresas e administrações públicas
| Economia
Porto Canal

A economia portuguesa continua a apresentar um património financeiro negativo, com os particulares a não gerarem riqueza financeira suficiente que compense o endividamento das empresas e administrações públicas, apesar das melhorias face aos valores negativos máximos atingidos em 2013.

O Banco de Portugal publicou hoje um suplemento ao Boletim Estatístico referente às contas nacionais financeiras, em que descreve a deterioração do património financeiro líquido da economia portuguesa nos últimos 20 anos.

"Em relação aos patrimónios financeiros, verifica-se que a posição externa da economia portuguesa era próxima de zero em 1995, tendo-se deteriorado progressivamente ao longo das últimas duas décadas, atingindo no final de 2015 um valor negativo de cerca de 109,3% do PIB [Produto Interno Bruto]", diz o banco central.

Isto significa que os agentes económicos da economia portuguesa não geram, em termos de 'stocks', poupanças suficientes para superarem as suas necessidades financeiras.

Para a evolução ocorrida nos últimos 20 anos, refere o Banco de Portugal, contribui o valor negativo do património financeiro das empresas (com mais passivos do que ativos) e das administrações públicas, devido à elevada dívida pública.

Já o setor dos particulares, onde se incluem sobretudo as famílias, é o que tem o património financeiro líquido mais elevado (devido aos depósitos e investimentos em títulos de dívida), mas insuficiente para compensar os dados negativos dos outros setores, enquanto as instituições financeiras apresentam valores próximos do equilíbrio, o que "espelha a função de intermediação financeira deste setor institucional".

Na zona euro, em média, o setor dos particulares regista riqueza financeira líquida que compensa o endividamento das sociedades (financeiras e não financeiras) e das administrações públicas. Já em Portugal, os particulares não têm capacidade de financiar os outros setores, pelo que é o 'resto do mundo' que supre essas necessidades de financiamento.

Apesar do agravamento do património financeiro líquido de Portugal desde 1995 até 2015, há que referir que nos últimos anos se tem assistido a uma melhoria, depois do pico máximo atingido em junho de 2013, quando o património financeiro líquido da economia portuguesa representava -118,84% do PIB.

Para isto contribuíram os empréstimos inferiores contraídos pelas empresas, as amortizações de dívida das administrações públicas (nomeadamente ao Fundo Monetário Internacional) e a redução do crédito dos particulares, que, por outro lado, também aumentaram numerário e depósitos.

Também este ano tem havido um novo desagravamento deste indicador, ainda que continue negativo. No final de junho deste ano, a economia portuguesa apresentava um património financeiro líquido negativo de 105,63% do PIB, abaixo dos -109,35% do PIB de final de 2015.

Já quanto às transações financeiras, o Banco de Portugal verificou que nos últimos três anos (2013, 2014 e 2015) se registou poupança financeira em Portugal, que em 2015 foi de 3 mil milhões de euros, o que contrasta com os anos anteriores a 2012, em que eram geradas necessidades de financiamento significativas.

"A evolução favorável da poupança financeira da economia portuguesa resultou, fundamentalmente do crescimento da poupança das sociedades não financeiras, que apresentavam até 2011 necessidades de financiamento e que, a partir de 2012, apresentam capacidade de financiamento", refere o banco central. Esta poupança das empresas deverá estar relacionada com o pouco investimento que têm feito.

Apesar da poupança financeira que tem sido gerada nas transações financeiras nos últimos três anos, essa não altera o comportamento negativo do património financeiro ('stock') que ainda é negativo na totalidade da economia portuguesa.

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