Arguidos na derrocada que matou 3 trabalhadores em Braga remetem-se ao silêncio
Porto Canal / Agências
Braga, 31 out (Lusa) - O engenheiro e o empreiteiro arguidos no caso da morte de três trabalhadores numa obra em Braga, em 2008, remeteram-se hoje ao silêncio no início da repetição do julgamento, no Tribunal Judicial daquela comarca.
Os arguidos são acusados do crime de violação das regras de construção, agravado pelo resultado morte.
O acidente registou-se a 08 de setembro de 2008, na Rua dos Chãos, cidade de Braga, quando as vítimas trabalhavam na construção de um prédio e ficaram soterradas numa vala, após o desmoronamento de um edifício contíguo.
Em junho de 2012, o Tribunal de Braga tinha condenado cada um dos arguidos a dois anos e meio de prisão, com pena suspensa.
Aplicou ainda 300 dias de multa, à taxa diária de dez euros, à empresa responsável pela obra, também arguida no processo.
Os arguidos foram ainda condenados a indemnizar as famílias das vítimas, num montante que poderá rondar o milhão de euros
A defesa recorreu para a Relação, que devolveu o processo ao Tribunal de Braga, mandando repetir o julgamento na íntegra, por considerar haver "vício de insuficiência" da prova.
Hoje, o tribunal está a ouvir os dois peritos da Universidade do Minho responsáveis por um parecer que concluiu as escavações da obra em causa não terão sido as "adequadas" face à "situação calamitosa" do prédio contíguo, que acabou por ruir.
Um dos peritos afirmou que os autos de vistoria da Câmara ao prédio que ruiu "permitem perceber" que a degradação desse edifício era contínua e progressiva.
Admitiu ainda que a vibração causada pela máquina que trabalhava nas escavações também poderá ter contribuído para a derrocada.
No entanto, acabou também por afirmar que não é possível garantir que o prédio não cairia "por si", mesmo sem as escavações e as vibrações.
"O risco zero não existe na engenharia", afirmou.
No primeiro julgamento, o Tribunal de Braga deu como provado que o plano de segurança da obra "não contemplava" a abertura daquela vala, que teria 80 centímetros de profundidade, cem centímetros de largura e oito metros de comprimento.
Acrescentou os arguidos não cuidaram de entaipar a vala nem promoveram estudos geológicos dos terrenos envolventes ou sobre a robustez do prédio que ruiu.
O coletivo de juízes considerou ainda que os arguidos "agiram conscientes da possibilidade" de aquele prédio ruir e do consequente risco para a vida dos trabalhadores.
Por isso, imputou-lhes uma conduta negligente, tanto mais que "era visível" o estado de degradação do prédio que ruiu, que teria à volta de cem anos.
Para João Magalhães, advogado de defesa da empresa e do empreiteiro, aquela decisão contraria anteriores sentenças proferidas pelo tribunal do trabalho, que absolveu os arguidos, e na ação cível.
João Magalhães defendeu que a prova da culpa dos arguidos "foi zero" e que quem deveria estar no banco dos réus era a Câmara de Braga e o proprietário do imóvel que ruiu, bem como a Autoridade para as Condições do Trabalho.
Sublinhou que a ameaça de ruína do prédio já era pública há dez anos, mas a Câmara só declarou a sua expropriação um ano e meio depois da derrocada mortal.
Garantiu ainda que a vala em questão não passava de "um pequeno buraco, que daria pelos joelhos dos trabalhadores", e sublinhou que a obra seguiu "à risca" o projeto aprovado pela Câmara.
Na sessão de hoje, João Magalhães garantiu que, na manhã do dia da derrocada, estiveram na obra elementos do Departamento de Arqueologia da Câmara a fazer escavações.
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